Resumo das Comunicações

Os resumos aparecem com o nome dos comunicadores, em ordem alfabética.

Adriana Marcolini

Bilal - Viajar, trabalhar e morrer como clandestino.

Proponho apresentar um trabalho sobre o livro "Bilal - Viaggiare, Lavorare, Morire da Clandestini", um livro reportagem do jornalista italiano Fabrizio Gatti, publicado em 2007 na Itália (editora Rizzoli, Milão).
Trata-se da narração da viagem que Gatti fez do Norte da África para a Itália, fazendo-se passar por um dos tantos emigrantes africanos clandestinos, e da sua sobrevivência em solo italiano nesta condição. Bilal, diminutivo de Bilal Ibrahim el Habib, é o nome que o jornalista escolheu para a sua nova identidade.
Gatti atravessou o deserto de Agadez, no Níger, e viajou até a costa do Mediterrâneo como se fosse um verdadeiro emigrante, para poder assim contar – e sentir – o que é de fato ser um imigrante clandestino na Itália. Em outras palavras, viveu em seu próprio país como se fosse um ilegal. O livro termina com a volta de Bilal para a África, depois de não ter conseguido atingir seus objetivos.
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Alcione Corrêa  Alves
Análise e discussão da instalação Wandering position: primeiras hipóteses.


A instalação do artista japonês Yakinori Yanagi intitulada Wandering position e, mais precisamente, sua análise levada a termo pela leitura de Néstor García Canclini, consta da fortuna crítica sobre conceitos centrais ao estudo de estéticas migrantes, tais como os de deslocamento, hibridismo e transculturação. É possível observar que a discussão acerca dos referidos conceitos, nestes termos, se desenvolve em uma perspectiva por vezes ambivalente, oscilando entre paradigmas pós-modernos e pós-coloniais. Partindo desta constatação, esta comunicação oral proporá que uma apropriação do conceito de lugar, sobretudo a partir do filósofo Édouard Glissant e do ensaísta Walter Mignolo, permite a proposição de novas interpretações tanto à instalação Wandering position quanto a seus atuais usos no âmbito da comunidade científica brasileira. Do ponto de vista metodológico, esta comunicação procederá, inicialmente, a uma primeira revisão da fortuna crítica sobre as interpretações à instalação, propostas por ensaístas e pesquisadores brasileiros dedicados ao estudo de estéticas e literaturas migrantes; em seguida,
passará a uma apropriação do conceito de lugar em Glissant, precisamente em sua obra Introduction à une poétique du Divers, acrescida da distinção de Mignolo entre lugar e perspectiva conforme sua obra Historias locales/diseños globales. Como hipótese, supõe-se que uma apropriação do conceito de lugar, nestes termos, permite interpretações de obras literárias afrocaribenhas capazes de valer-se, simultaneamente, das possibilidades críticas atinentes ao conceito de deslocamento (caras ao paradigma pós-moderno) e das possibilidades críticas atinentes ao conceito de lugar de enunciação (caras ao paradigma pós-colonial). Esta pesquisa tem sido elaborada no âmbito do Projeto Cadastrado de Pesquisa “Teseu, o labirinto e seu nome”, desenvolvido na Universidade Federal do Piauí, e dedicado à compreensão das construções identitárias nas literaturas afroamericanas.
Palavras-chave: Deslocamento. Lugar. Literaturas afrocaribenhas.
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Amanda Pérez Montañés

Julio Cortázar e Marta Traba: em trânsito e vertingem.

Na América Latina o exílio na literatura constitui uma tradição criada pelos escritores banidos de seus países quase sempre por perseguição política. Com as ditaduras do Cone Sul nas décadas de 1960 e 1970, a experiência desse banimento aparece registrada nas obras de muitos escritores degredados, assim como em algumas obras de escritores que ficaram em seus países de origem escrevendo à sombra do sistema, exilados dentro de seus próprios mundos. A exigência de um engajamento crítico deu lugar a uma cultura de resistência que tentava enfrentar desde uma posição marginal, e com os meios criativos ou políticos, o terror e a censura, criando um espaço de reflexão a partir do universo da escrita. Nesse contexto, as obras produzidas no exílio expressam a situação política e cultural da América Latina, enfocam também as polêmicas e o engajamento político dos intelectuais em torno da importância do exílio para a produção literária. A partir dessas considerações objetiva-se neste trabalho refletir sobre as experiências do exílio vivenciadas por Julio Cortázar e Marta Traba, autores de proa no pensamento, na criação e na transformação cultural da América Latina. O itinerário intelectual e existencial de Julio Cortázar e Marta Traba construído em permanente exílio, em sucessivos deslocamentos e estados de fragmentação, revela identidades cindidas em múltiplas vozes, cuja experiência erradia reflete a situação existencial como a experimenta um indivíduo multicultural, um emigrante convertido em nômade. A vivência de um conjunto de experiências complexas e contraditórias retrata também a interação de diversos níveis de subjetividade, em que o eu se desloca em cruzamentos, em pontos de encontro, de diálogo e de tensão histórica e cultural. Cortázar e Traba elaboraram uma política de resistência cultural a partir de uma estética nômade. Enquanto sujeitos nômades cruzaram fronteiras geográficas, conceituais, estéticas e políticas, fazendo da experiência erradia um campo de luta e de tensão política e cultural, convertendo as circunstâncias adversas e a vida incerta em um estímulo para sua fecunda produção intelectual.
 PALAVRAS-CHAVE: Exílio; Julio Cortázar; Marta Traba. 
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 Ana Cláudia Rocker Trierweiller Prieto

A mestiçagem cultural na produção poética de César Vallejo.

Neste artigo, analiso na trajetória poética de Vallejo os traços da mestiçagem cultural e como aparecem
representados em alguns poemas, concentrando a análise nos livros Los Heraldos Negros (1918), Trilce (1922) e Poemas Humanos (1939). Vallejo carrega a mestiçagem no sangue, seus avós de origem quéchua e mochica e os avôs espanhóis, o poeta nasceu e passou toda a infância em Santiago de Chuco, povoado encravado na serra andina peruana. Frequentou formas culturais diversas, vivendo em um país onde o encontro de culturas é extremamente conflituoso, na infância, conviveu com os (cholos), indígenas trabalhadores do campo e seus costumes, em família praticavam a religião católica dos avôs colonizadores espanhóis. A partir da publicação de Trilce, poemas escritos durante a prisão, rompe com as estruturas da linguagem poética do seu tempo, contudo, não é compreendido e tão pouco aceito nos meios literários da capital peruana. Sem perspectiva em 1923 busca o autoexílio, e em Paris produz grande parte da sua obra literária, precursor do sentimento indígena virginalmente expressado, não volta a pisar em solo peruano e morre em 1938 na capital francesa. Hoje é considerado o maior poeta peruano, sua obra poética é permeada pela frustração, humilhação, miséria e uma visão conflituosa da realidade.
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Anderson da Costa

Paris dos surrealistas: errância e revelação.

Herdeiros diretos da flânerie do século XIX, os surrealistas fizeram de sua errância pela capital francesa não apenas uma busca incessante pela poetização do cotidiano, mas também a descoberta e consequente revelação de uma Paris até então jamais explorada. Militando em um espaço definido por Roger Caillois como a “fissura ideal que separava a Paris das experiências da Paris dos mistérios”, os surrealistas procuraram estabelecer também entre o real e o imaginário o que Breton chamava de “ponto supremo”, ponto esse no qual as antinomias deixariam de ser percebidas como tais. Assim, deslocando-se ao acaso por uma Paris que a cada esquina sobrepunha a si mesma as diversas Parises oriundas de épocas passadas, os surrealistas fizeram da capital francesa, via deambulação e manifestação do acaso objetivo, um campo propício para as transformações culturais do início do século XX.Paris dos surrealistas:errância e revelação.
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André Schlichting

Análisis de Cinco metros de poemas de Oquendo de Amat: Las influencias vanguardistas y cinematográficas.

El presente trabajo se propone señalar y explicar la telaraña de influencias de Oquendo de Amat reflejadas en su libro Cinco metros de poemas. Al principio presenta una breve biografía pautada en datos recogidos, presentando ya en su inicio el problema de contar la trayectoria de un artista olvidado por treinta años y su tardío reconocimiento, donde lo saca del limbo del olvido Varga Llosa, cuándo le dedica su discurso al ganar el premio Rómulo Gallegos. Esta parte se cierra con datos de su viaje que terminaría en su muerte
Luego presenta un análisis del libro como objeto estético y poemario lúdico abarcando forma y contenido, yéndose al análisis del poema film de los paisajes y sus influencias cinematográficas y vanguardistas, sus correlaciones en la poesía francesa, plasmando en la poesía de habla hispánica, refiriéndome principalmente a Leopoldo Lugones y Vicente Huidobro.
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Andressa Zoi Nathanailidis
Da migração à canção:  o rap e a luta pelo reconhecimento em multiterritórios.

O presente trabalho tem como proposta defender a existência de uma vertente (i) migratória da arte rapper, viabilizada e veiculada por meio da internet. A partir do conceito de multiterritório, proposto por Rogério Haesrbart, pretende-se promover uma  análise qualitativa de canções produzidas e promovidas por imigrantes situados em territórios distintos do globo.   Serão realizadas transcrições e traduções destas músicas a fim de verificar nas mesmas a presença de elementos comuns inerentes às temáticas do reconhecimento social e da ausência do mesmo. Acredita-se que, independente do país em que é produzida e da pátria-mãe de seus intérpretes e criadores, a canção rapper mantém em si a essência originária do deslocamento histórico, notada ainda nos primeiros raps, surgidos na década de 1970. De maneira geral, tais  canções parecem exercer funções discursivas transnacionais, guardando em comum o ímpeto verbal assumido por palavras que narram a condição estrangeira no globo e visam, em alguma medida, alcançar transformações sociais que atestem o reconhecimento dos grupos envolvidos. Com o propósito de pensar e problematizar tais canções, a partir dos deslocamentos migratórios atuais, relacionados às práticas neoliberais do globo e, muitas vezes, à realidade “pós-colonial”, serão analisadas produções de: MC Yoka (imigrante brasileiro, radicado na Espanha); MC Yinka (rapper grego, filho de imigrantes africanos) e dos grupos Psy 4 de la rime ( imigrantes africanos radicados na França) e Tensais MCS (niseis radicados no Japão). A fim de viabilizar a pesquisa, será adotado referencial bibliográfico específico. Além de Haesrbart,  integram o trabalho obras cuja autoria parte, por exemplo, de Stuart Hall, Julia Kristeva, Richard Shustermann e Paul Gilroy. 
Palavras-chave:imigração,rap,reconhecimento,globalização,multiterritório. _________________________________________________________________________________


Artur de Vargas Giorgi
“Arte Rorschach”: aproximações à mancha.

Em 1952, Michel Tapié publica Uma arte outra (Un Art Autre), livro onde encontramos uma formulação para aquilo que ficaria conhecido, na historiografia da arte do século XX, como tachismo – do francês tache –, o que em português poderia ter a tradução de “manchismo”. Algumas vezes também assimilado com os nomes informalismo,abstração lírica ou expressionismo abstrato (sobretudo nos Estados Unidos), o tachismo parece ter estado distante de constituir-se numa verdadeira escola (no sentido de constituir grupos coesos, orientações nítidas e características plásticas bem definidas, o que permitiria uma generalização menos violenta, na tentativa da unidade). Seu apelo como movimento internacional, contudo, foi dos mais marcantes, nos grandes centros, nos anos 50 e início dos 60, incluindo nessa cartografia Buenos Aires, Rio de Janeiro e, certamente, São Paulo: basta lembrar, na Bienal de 1957, a sala especial destinada a Jackson Pollock e a premiação da seleção brasileira (Fayga Ostrower, Fernando Lemos, Wega Nery e Frans Krajecberg); ou ainda, na Bienal seguinte, em 1959, a premiação de Manabu Mabe como melhor pintor nacional. Críticos como Mário Pedrosa e Ferreira Gullar reagem à consagração no país dessa “tendência romântica” internacionalista e subjetivista (espécie de “arte Rorschach”, afirmam, marcada pelo niilismo
europeu do pós-guerra), valorando, por outro lado, a legitimidade, no Brasil progressista, da abstração geométrica e os princípios formais do concretismo. Entre os argentinos, se Romero Brest busca dar espaço, Eduardo Baliari, Ernesto Schóo e, mais tarde, León Ferrari estão entre aqueles que se mostram cautelosos com relação ao tachismo e sua pluralidade expressiva, mobilizadora de forças tão heterogêneas quanto as caligrafias chinesa e japonesa, o automatismo surrealista, o espiritualismo Zen e os impulsos da “anti-arte” dadaísta. Ocidente e Oriente, particular e universal, forma e informe, autonomia e dependência, progresso e subdesenvolvimento, participação e alienação são algumas das polaridades marcadas; entre elas, as leituras se deslocam.

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Aurora Cardoso de Quadros

Drummond: poética e consciência.

Este estudo objetiva investigar e ampliar o olhar sobre a obra literária de Carlos Drummond de Andrade, buscando a associação entre literatura e ideologia. Por meio da análise, comparação e pesquisa bibliográfica, traça- se um percurso analítico por algumas das suas criações, entre verso e prosa, considerando-se a interação entre a face poética e a social. Como parâmetro da análise, são tomados também alguns poemas líricos do poeta. Tomando como ponto de partida a premissa de que, mesmo tendo como substância essencial a natureza estética, a obra literária  é também um procedimento humano,  refletindo o meio em que  foi produzida. Seu autor é o ser social que constrói, por meio da arte da palavra, esse produto. Sendo inserido em um contexto histórico e político, o poeta tanto exerce quanto sofre influências deste contexto. A escrita de Drummond que se sensibiliza com as desigualdades do mundo e traz à luz o homem comum, trabalhador e desprivilegiado é o objeto de estudo deste artigo. O viés selecionado dialoga com a essência sentimental de outros poemas. E, vislumbrando a propriedade estética da sua função e da sua intenção, a poética drummondiana de cunho social se enquadra na obra que permanecerá. E será lembrada e buscada não apenas por tanger de forma consciente as injustiças do mundo, mas pelo modo como toca nessa questão. Ao construir a escrita da conflituosa relação entre consciência, desejo de ação e impotência, o intelectual revela o poeta, cujo valor ultrapassa a consciência racional e humanitária. Desse modo, sua obra fica não pela mensagem em si, mas pela forma literária competente como é construída. Palavras-chaves: Estética; política; Drummond.
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Bárbara Fraga Góes
Identidade em fragmentos: reconstrução da protagonista do romance Ni d'Éve ni d'Adam.

Neste trabalho, desenvolvo o conceito de identidade discutido por Julia Kristeva e Tzvetan Todorov em analisando um romance contemporâneo em língua francesa da escritora belga Amélie Nothomb. Neste romance são evidentes as consequências de um deslocamento físico: em um país diferente, falando uma língua diferente, percebendo uma cultura diferente, tendo uma vida diferente; o resultado é uma identidade única, inédita e fragmentada.
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Cláudio Roberto Vieira Braga
“Imaginary Hostlands”: Os Estados Unidos nos contos diaspóricos de Chimamanda Ngozi Adichie.

Em meio a um considerável número de escritores Africanos emigrados para os Estados Unidos, a nigeriana 
Chimamanda Ngozi Adichie (1977) se destaca pelas narrativas centradas na condição diaspórica de nigerianos vivendo naquele país. Este trabalho examina as construções mentais feitas pelo sujeito diaspórico nigeriano sobre a terra que os recebe. O estudo, que parte dos conceitos de pátrias imaginárias de Salman Rushdie (1981) e comunidades imaginadas de Benedict Anderson (1983), transfere o processo de imaginação da terra natal para a sociedade hospedeira, também imaginada. Descrevem-se e confrontam-se imagens mentais calcadas em percepções individuais, afetadas pelo deslocamento diaspórico, analisando-se as origens de tais criações, muitas vezes estereotípicas, feitas de impressões trazidas da terra natal e reelaboradas na sociedade hospedeira. Palavras-chave: sociedade hospedeira imaginada; diáspora nigeriana; Adichie.
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Cleuza Maria Soares
Mulheres imigrantes latinas: Atravessando fronteiras no cinema.

No mundo atual marcadamente global, imigrantes pobres que cruzam as fronteiras ilegalmente para viver noutros países ficam em situações de extrema vulnerabilidade. Conforme Canclini (2003) a imigração faz parte de um amplo processo global juntamente com os fatores econômicos, financeiros, e comunicacionais, a chamada globalização. A separação das fronteiras geográficas por muros provoca exclusão, segregação, e a tentativa de transpô-los resulta em mortes para muitos. O objetivo desse artigo é analisar as narrativas de personagens migrantes femininas nos filmes “Babel” do cineasta mexicano Alejandro González Iñnárritu (2006), e “A partir do pó” (2003) da cineasta americana Nancy Savoca. Em “A partir do pó”, a personagem Dolores (Julieta Ortiz) uma salvadorenha que vive ilegalmente nos EUA, com o marido e o filho adolescente. Trabalha como faxineira em apartamentos das regiões ricas de Manhattan encontra-se estabelecida nos EUA, mas apor uma fatalidade é obrigada a retornar ao seu país. Depois retorna aos Estados Unidos com um passaporte falso. Em “Babel”, Amélia (Adriana Barraza), uma babá mexicana que cuida de crianças nos EUA, é detida, acaba sendo deportada, e, por pouco não fica presa, acusada de sequestro das crianças. Esta proposta de pesquisa baseia-se no pressuposto de que o imigrante ao cruzar a fronteira geográfica, terá que lidar com outras gamas de fronteiras como explicita Anzaldua (1987), classe, raça, gênero, linguísticas dentre outras. Analisar e discutir as implicações que decorrem dessas situações culturais, sociais, políticas e econômicas a partir da construção das personagens femininas imigrantes latinas na narrativa fílmica, é o que o trabalho se propõe.

Palavras Chave: Imigração, Personagens Latinas, Fronteiras

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Crisadália Oliveira

Subjetividades femininas em trânsito no romance Eu,Tituba, feiticeira...Negra de Salem, de Maryse Condé.

No romance Eu, Tituba, feiticeira... Negra de Salem, da escritora guadalupeana Maryse Condé, a personagem Tituba é gerada na travessia para as Américas. Abena, mãe de Tituba, de origem Ashanti, é violentada por um marinheiro inglês em um navio para Barbados, nascedouro de Tituba. Este trabalho propõe uma analise da travessia como instante zero para a formação identitária de Tituba, pois a narração que a personagem faz de sua vida inicia pelo estupro da mãe e o posterior retorno para Barbados, nascedouro e lugar escolhido. Como pensar o processo identitário de Tituba, tendo em vista o Mar como lugar de geração? Nesta leitura, tomaremos por base os autores Stuart Hall, em sua obra Da Diáspora: identidades e mediações culturais (2003) e Édouard Glissant, em sua obra Introduction à une poétique du Divers (1996). Esta pesquisa, da qual decorre a presente comunicação, tem sido desenvolvida no âmbito do Projeto Cadastrado de Pesquisa "Teseu, o labirinto e seu nome", desenvolvido na Universidade Federal do Piauí.
Palavras-chave: Travessia, Lugar, Construções Identitárias.
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Cristiane Mare da Silva.
Mulheres e escritoras negras na Diáspora Africana nas Américas: Um diálogo entre as obras de Nancy
Morejón e Conceição Evaristo.

Mulheres e escritoras negras na Diáspora Africana nas Américas: Um diálogo entre as obras de Nancy Morejón e Conceição Evaristo.Na tentativa de revisar as definições de mulher negra seja ela na literatura ou no próprio cotidiano, ganharam corpo em nossa tradição literária retratos que pouco ou nada dizem a seu respeito, pois tem como precursor um alheio a essas vivências, visões marcadamente racialistas, sexistas ou de classe , que foram impregnando nossas interpretações sobre o Brasil, a África e a Diáspora. Em verdade, fazem parte de projetos institucionais, hegemônicos que produzem um esquecimento ideológico, para reconstituir as experiências dos grupos colonizados/subalternos nos marcos estabelecidas por essa memória dominante. Na contramão destas tendências, e em sintonia com os novos ventos trazidos, entre outros pelo campo dos Estudos Culturais, no presente trabalho, por meio de um cotejo da poesia de Nancy Morejón, escritora afro-cubana e Conceição Evaristo, escritora afrobrasileira, pretendo esboçar outras possibilidades interpretativas, conectadas a um novo contexto em que as identidades culturais são muito mais complexas. Elas parecem produzir uma escrita sensível, como bem o disse Miriam Alves, uma reflexão que revela a face de um feminino, diferente do que se padronizou, humanizando estas mulheres negras, imprimindo um rosto, um corpo e um sentir mulher com características próprias.
Mulheres e escritoras negras na Diáspora Africana nas Américas: Um diálogo entre as obras de Nancy
Morejón e Conceição Evaristo
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Damaris Pereira Santana Lima 
El Fiscal: o diálogo entre história e arte na construção da literatura.

A hibridização de gêneros e discurso é fator corrente na literatura contemporânea. Já é consenso ouvir e dizer que a obra do escritor paraguaio Augusto Roa Bastos (1914-2005) é um híbrido entre história e ficção, que para a produção do texto literário o autor bebe no rio da história de seu país. Este trabalho irá concentrar, portanto, no romance El Fiscal (1993) mostrando o híbrido caminho feito pelo autor para contar a história do Paraguai. Em El Fiscal Roa Bastos se utiliza, explicitamente, de várias manifestações literárias para a apresentação da história do Paraguai e para a construção do discurso literário, a saber: roteiro de filme, a pintura de Grünewald, os quadros de Cándido López e ainda faz várias referências à música. Este trabalho pretende apresentar e comentar o diálogo do texto literário com diversas atividades artísticas
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Denise Almeida Silva

Migrações do eu: translações do si em outro em Insubmissas lágrimas de mulheres.

Pensa-se aqui migrar, como o faz Pierre Ouellet, a partir do termo latino migrare, que designa tanto mudança de lugar como o próprio ato de infringir ou transgredir, apontando, assim, uma infração das leis do próprio , rumo a um outro tornar-se que também é tornar-se outro. O emancipar-se de uma origem ou identidade primeira equivale a um movimento de translação de si em outro, em uma afirmação identitária. Propõe-se o estudo das identidades migrantes em contos da coletânea Insubmissas lágrimas de mulheres, de Conceição Evaristo, a partir de dois eixos: de atos de transgressão/agressão/evasão, recorrentemente associados, na obra, a homens inominados, e do movimento de translação do si em outro que tais atos acabam por provocar nas mulheres a eles associadas.
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Elaine Cristina Reis
Tradução Cultural: performance do poema Garrapata/ Carrapato em LIBRAS, português e espanhol.


 A presente proposta é a apresentação do trabalho, requisito parcial para aprovação na disciplina Tópicos especiais – Entre posições e territórios: algumas teorias e trajetórias da Tradução Cultural, ministrada pela professora Alai Garcia Diniz e oferecida pela PGET – UFSC, entre dezembro de 2012 e fevereiro de 2013. Pretendese buscar relações recíprocas e dialógicas entre o poema Garrapata (Carrapato) de Mario Rubén Alvarez, compilado por Susy Delgado em Poesía Guaraní Contemporánea e a tradução cultural do mesmo poema feita em LIBRAS – Língua brasileira de Sinais. Essa perspectiva é criada a partir da ideia de que o poema Garrapata /Carrapato surge como uma crítica do autor sobre aquele que explora o outro. O carrapato é uma metáfora para o homem capitalista, nesse sentido há também uma relação política, em que são discutidas relações de poder e ideias de exploração: o homem que vê o poder acima de tudo. O carrapato - inseto que suga pode ser simbólico tanto para a cultura indígena – no caso a guarani, como para a cultura surda, no sentido de ser um inseto que serve de metáfora para um sugador que incomoda: os brancos/ouvintes usam a cultura, a língua indígena/LIBRAS como um dado deles. Ampliando essa perspectiva, para a referida disciplina foi apresentada a performance do poema Garrapata (Carrapato), com a sua leitura em espanhol, em paralelo com a leitura de palavras-chave do poema traduzidas ao português e concomitantemente com a interpretação apresentada em LIBRAS. Como a proposta deste estudo é
fundamentada na performance, no sentido de que ela é uma tradução cultural, utilizaremos como fonte de pesquisa o livro Ayvu Rapyta de León Cadogán; Siting Translation: History, Post-Structuralism, and the Colonial Context de Tejaswini Niranjana; Exploring Translation Theories, de Anthony Pym e O Teatro no Cruzamento de Culturas, de Patrice Pavis. No livro Ayvu Rapyta buscaremos maior compreensão da cultura guarani; nas abordagens de Niranjana e Pym os conceitos de tradução. Niranjana na introdução de sua tese discute relações de poder e afirma que dentro dos estudos culturais, só compreenderemos uma tradução analisando o contexto, desconstruindo a linguagem do colonialismo para que a tradução seja relevante, pois segundo a autora um dos pressupostos do discurso colonial é mostrar o sujeito colonizado como imutável. Anthony Pym faz uma resenha dos percussores da tradução cultural para colocá-la como um novo paradigma para o novo século. Para o autor a tradução cultural é como atividade geral de comunicação entre diferentes grupos culturais, não discute textos e sim utiliza a tradução como metáfora para explicar os processos permeados pelas atividades humanas. Patrice Pavis considera a tradução intergestual e intercultural como uma especificidade da tradução teatral, pois no teatro comunicam-se e confrontamse
culturas heterogêneas separadas pelo espaço e pelo tempo. Tal comunicação cultural ocorre no momento hermenêutico em que o espectador questiona a cultura fonte e em seguida se apropria dela. A tradução teatral não está nas palavras, mas nos gestos, nos corpos, nas entonações, nesse sentido o ator é um tradutor, um mediador entre duas línguas, entre duas culturas. Nesta proposta de trabalho quem faz a mediação entre o texto guarani e a performance em LIBRAS é um o performer surdo, o que reitera Pavis quando afirma “comunicação intercultural serve-se antes de mais nada do corpo e do gesto para evocar as ligações e as diferenças”. A mediação entre a cultura fonte e a cultura alvo utiliza a tradução intercultural e intergestual como estratégia para salientar as aproximações e as diferenças entre essas duas culturas através do corpo, do gesto.

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Ella Ferreira Bispo
O Haiti é aqui, O Haiti não é aqui: a confluência do Haiti com o Brasil a partir do realismo maravilhoso haitiano.

Como maneira de demonstrar a necessidade do desenvolmento de teorização a partir do lugar americano, o presente trabalho realiza uma análise do quadro Vol de Zumbies, do artista haitiano Hector Hippolyte, tendo como base o proposto por Jacques Stéphen Alexis em seu texto intitulado Prolégomènes à un manifeste du réalisme merveilleux des Haïtiens. Pensando a crioulização, o escritor e ensaísta martinicano Édouard Glissant afirma-nos que “os elementos culturais talvez mais distantes e mais heterogêneos uns aos outros possam ser colocados em relação” (2005, p. 26-27). Nesse sentido, a partir da análise empreendida, buscamos, ainda, revelar uma reciprocidade cultural entre o Haiti e o Brasil. Por fim, uma vez que desencadeamos a dissipação das fronteiras entre a arte e a história, temos a possibilidade de questionar a noção de escravatura limitada à ideia de desterritorialização e comercialização do negro africano, conforme defendido pelos discursos da História oficial. Esta comunicação tem sido desenvolvida no âmbito do Projeto Cadastrado de Pesquisa “Teseu, o labirinto e seu nome”.
Palavras-chave: Crioulização. Hector Hippolyte. Realismo Maravilhoso Haitiano. Escravidão.
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Estevão Carvalho Batista 

Cruzando fronteiras nominais: antroponímia e a escrita migrante estadunidense.

Em 2006, a Interpol elaborou A Guide to Names and Naming Practices, que enfatiza a importância de se aprender mais sobre nomes próprios a fim de melhor entender seus detentores. Um nome “pode indicar gênero, estado civil, lugar de nascimento, nacionalidade, etnia, religião, e posição dentro de uma família ou sociedade”(2), tais informações podem ser úteis no processo investigativo, orienta o guia. Em 2010, o SAROC (Centro Regional de Informações sobre Crime Organizado do Sul dos Estados Unidos) demonstrou a mesma preocupação ao publicar um documento bastante similar, The Law Enforcement Guide to International Names. Além de concordar com o tipo de informação obtida através dos nomes, a versão estadunidense afirma que o país “é a terra de imigrantes e que muitas jurisdições contém comunidades povoadas de pessoas de todo o mundo”(3), logo o conhecimento oferecido pelo guia também ajudaria as autoridades a lidar melhor com as organizações criminosas de origem estrangeira já que as convenções para nomes de indivíduos varia tremendamente de país em país. Embora a lógica sobre o que se pode aprender com os nomes seja inegável, a produção e distribuição de tais guias gera muita controvérsia. Isso, sobretudo por servirem para disseminar um ódio já existente contra minorias e contribuir por divisões já criticadas por Edward Said “se não a divisão leste/oeste, então a norte/sul, rico/pobre, imperialista/antiimperialista, branco/de cor” (Orientalism 328)
Estudos antropológicos, como os compilados por Gabriele vom Bruck e Barbara Bodenhorn (2006), não tem interesse em como os nomes podem contribuir na apreensão de criminosos, mas nas implicações que eles apresentam nas diferentes culturas e no papel crucial que eles têm na vida social (3). Nomes são, sem dúvida, a origem de uma série de questões identitárias envolvendo as categorias enfatizadas pelo guia da Interpol, como gênero, nacionalidade e etnia, entretanto, ao mesmo tempo em que nos definem, “eles podem também prover o meio para o cruzamento das fronteiras entre essas mesmas categorias” (4). Este trabalho foca nos displaçamentos onomásticos, questões identitárias e nos cruzamentos de fronteiras observados em na literatura escrita em inglês por autores migrantes nos Estados Unidos. Os sujeitos representados na obra ficcional e autobiográfica de autores como Jhumpa Lariri, Julia Alvarez, Richard Rodriguez, Sandra Cisneros e Sigrid Nunez, não são em sua maioria foras-da-lei ou imigrantes ilegais. Porém, eles são frequentemente excluídos naquela sociedade graças aos seus diferentes traços físicos, língua e nomes estrangeiros. A forma com que eles lidam com os nomes e apelidos que lhes são dados, e em alguns casos os diferentes nomes adotados por eles voluntariamente, revelam como eles negociam com muitos dos já mencionados aspectos de suas subjetividades.
Palavras-chave: Nomes na Literatura; Imigração; Identidade
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Everton Vinicíus
A nublada visão do contemporâneo.

O fenômeno da literatura brasileira contemporânea vem crescendo muito desde o início do século passado e publica-se hoje como em nenhum outro momento da nossa história literária. A literatura está no entremeio de um espaço midiatizado e que desloca, autor e leitor, por experimentalismos fluidos em função de uma interatividade e cotidiano contagiado pelos meios digitais. A bem da verdade é que contamos com escritores que vêm consolidando suas carreiras em âmbito nacional e internacional, apoiados pelos holofotes dos eventos acadêmicos e pelo ciberespaço. No meio do turbilhão de novos títulos e novos autores é trabalhoso à crítica não só mapear os trabalhos que são lançados, como também, de alguma forma, tentar encontrar traços que possam caracterizar o que chamamos de literatura brasileira contemporânea, ainda em busca de um termo que melhor o defina, sobretudo, se tentarmos buscar uma estética que identifique essa literatura. Este trabalho trata dessas questões acerca do contemporâneo cenário atual de nossa literatura, considerando-a num entre-lugar de suas formas e motivos, marcada pela velocidade e horizontalidade de nossas relações e, por isso, ainda difícil de se definir em meio à sua multiplicidade.
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 Fabian Antunes Silva
O herói sou eu: considerações acerca dos jogos e dos jogadores. 

Minha pesquisa tem como objeto a dinâmica das relações entre o jogo eletrônico e o jogador sob uma perspectiva cultural. Quais os agenciamentos solicitados pelo jogo ao jogador? Quais as formas de “ação” possíveis dentro do mundo do jogo? Qual o nível de efetividade dessa relação? Há paralelo entre o espectador do cinema ou televisão e o jogador? E quais são as suas diferenças? Como o jogador e o herói se relacionam no jogo? É realmente possível contar histórias através dos jogos? É com base nessas e outras perguntas que tento desenvolver meu estudo acreditando que compreender como se dão e qual a potência dessas relações é compreender a importância desse artefato cultural e sua realização como um novo meio para a construção de experiências ricas, complexas e marcantes. Visto que o contínuo crescimento
dos jogos eletrônicos e o seu impacto em nossa sociedade vem se tornando algo cada vez mais expressivo e
complexo – que indica sua constante evolução numa variedade enorme de formatos, suportes e tipos – é importante o estudo atualizado do tema afim de tentarmos perceber essas mudanças e suas outras formas de criar relacionamentos com o jogador. Em parte pela precariedade de ferramentas próprias, mas também por conta da natureza híbrida dos jogos e por entender a cultura como um espaço movediço e inter-relacional, meu estudo faz uso de termos e ferramentas do cinema e das artes em conjunto com teorias da cultura e dos jogos para tentar montar uma base mínima onde me apoiar.Metodológicamente, minhas considerações se resumem atualmente aos jogos eletrônicos digitais baseados em ambientes “3D” e que apresentam a narrativa como componente essencial de sua construção como obra.

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Fabíola Silva Tasca

Aqui entre nós: Escritura

A introdução no repertório da arte contemporânea de figuras tomadas do deslocamento espacial, como viagens, trajetos, expedições, sinaliza uma atenção para com manobras que visam promover visibilidade a certas intercessões entre tempo e espaço. A “forma-trajeto”, noção elaborada pelo crítico francês Nicolàs Bourriaud, coloca em questão, mais uma vez, o lugar da obra enquanto colabora para a compreensão desse lugar como aquele em estreito diálogo com palavras e noções tais como multiplicidade, errância, deslocamento, impermanência, pulverização, acontecimento, etc. Múltiplo e formado pelo conjunto articulado de seus modos de aparição, é assim que o lugar da obra poderia ser descrito no contexto de um campo nomeado por Néstor Garcia Canclini como pós- autônomo. Distanciando-se de questões afinadas com o pensamento moderno em seu apego ao fundamento e à radicalidade, traduzir experiências em modos de visibilidade e conectá-los a contextos distintos, a diferentes relatos, responde pelo potencial de deslocamento da obra, um dos critérios de seu pertencimento à contemporaneidade. A errância que conforma a produção artística atual é aquela do deslocamento do artista, do espectador, mas também o dos modos de passagem da obra de um formato a outro. A tradução como trânsito de uma forma desde um sistema de códigos até outro assume, assim, certo protagonismo na cena atual, enquanto figura privilegiada de legibilidade para a produção contemporânea. A proposta de comunicação que aqui se apresenta pretende traduzir uma experiência em relato. Relatar o processo de constituição do trabalho Escritura, o qual compreende um livro e o procedimento de sua circulação. Continente de um acontecimento que teve lugar no dia 10 de novembro de 2002, em Diamantina, Minas Gerais, Escritura encontra suas condições de possibilidade e existência em uma constelação relacional. O acontecimento consiste na situação de produção de 24 imagens fotográficas por um morador de rua da cidade, a partir do percurso que nosso contato inicial descreveu. Assim, motivado por uma dinâmica de endereçamentos e acolhimentos consequentes, o acontecimento, enquanto efêmero, subsiste por meio do relato. Desde 2003 ofereço Escritura a determinados leitores que, assinando a ficha de leitura que acompanha o livro, autorizam a exposição de seus nomes no contexto da arte. A cada exposição desses nomes, a cada apresentação discursiva do trabalho, a cada publicação, delineia- se uma espécie de documento que confere certa visibilidade à situação que o engendrou. Uma situação instável e precária como as palavras enquanto sendo ditas. Escritura foi premiado em 2006 pelo projeto Fiat Mostra Brasil. 
Palavras- chave: arte contemporânea, escritura, enunciação       
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Fernando Antonio Machado e Fernando de Moraes Gebra
A viagem redonda e os ciclos de eternos retornos nos contos “Regreso” e “Galopa en dos tiempos”, de Augusto Roa Bastos.

 Nos estudos sobre o duplo na literatura, o motivo da viagem faz-se presente por se confundir com a própria existência do sujeito que passa a conhecer outras culturas e desenvolver relações de alteridade. Em muitos casos, a viagem pode ocorrer de maneira espontânea, em outros, é a partir de situações familiares, sociais, econômicas e políticas que obrigam o sujeito a deslocamentos imprevistos. Por meio de partidas e retornos, os protagonistas dos contos “Regreso” e “Galopa en dos tiempos”, de Augusto Roa Bastos, encontram seu destino trágico, marcado por destruição e morte. A partir de um humanismo revolucionário, Roa Bastos, nessas narrativas de El trueno entre las hojas, problematiza acontecimentos de ordem política referentes à tragédia paraguaia, pois são as intermináveis revoluções, contrarrevoluções e guerras e a presença de personagens opressores que desencadeiam as travessias dos protagonistas das narrativas em terras desconhecidas. Os contos apresentam diferentes espaços em diferentes tempos Em “Regreso”, o desdobramento espacial situa-se entre a Asunción da qual Lacú parte e retorna e o interior paraguaio pelo qual ele viaja. Já em “Galopa en dos tiempos”, a divisão ocorre entre Paraguai e Argentina. A presente comunicação, centrada na análise dos dois contos mencionados, discutirá a questão dos deslocamentos e
exílios relacionados com uma dimensão existencial da viagem. Como referenciais teóricos, utilizamos o embasamento psicanalítico de Otto Rank e Sigmund Freud, e a proposta filosófica de Clément Rosset, para verificar os desdobramentos espácio-temporais na construção do imaginário das narrativas. A questão do espaço é importante porque leva a refletir também sobre o porquê de as personagens serem viajantes e como se opera sua construção identitária.
Palavras-Chave: Roa Bastos; identidades; duplo; viagem; exílio.
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Francisco Javier Calvo del Olmo
Jangada de Pedra: rumos além/para a crise.

A Jangada de Pedra de José Saramago narra a viagem flutuante que a Península Ibérica empreende sobre as ondas do Atlântico ao se desprender misteriosamente da massa continental europeia. A publicação do romance, em 1986, coincidiu com o ano em que Portugal e a Espanha ingressaram na então CEE (Comunidade Econômica Europeia), predecessora da atual União Europeia. O ingresso dos países ibéricos na UE trouxe uma progressiva integração de suas culturas no âmbito europeu, fato percebido por alguns intelectuais como a superação do isolamento secular respeito às nações de além os Pirineus e do subdesenvolvimento social, cultural e econômico. A imposição de um discurso que articulava integração europeia e desenvolvimento anulou durante duas décadas questionamentos sobre o impacto desse processo nas culturas ibéricas. Entretanto, a crise econômica que começou em 2008 e cujos resultados políticos, sociais e culturais, longe de remitirem, vêm se intensificando nos últimos cinco anos pôs em causa esse processo de globalização como única e hegemônica possibilidade para Portugal e a Espanha. Destarte, lida à luz da crise, A Jangada de Pedra ganha uma nova vigência e a fenda física que no romance racha os Pirineus faz-se premonitória. Neste trabalho propõe-se uma leitura de A Jangada de Pedra desde essa perspectiva e assim, através dos sucessivos deslocamentos da península descritos nas páginas do romance, levantam-se questões e desafios: qual movimento propõe Saramago para os povos que moram na jangada? Quais roteiros ou destinos? Qual relação entre a pluralidade dessas culturas entre elas mesmas e com outras? Quais coordenadas sobre o eixo do universalismo e das particularidades, da identidade e da alteridade? Por fim, a mudança de paradigmas representa em si uma migração; abandonar modelos alheios, arquitetados desde centros de poder cada vez mais afastados. E aqui o romance de Saramago serve como bussola ou diário de bordo nessa viagem – ética e estética – que cabe fazer nesta segunda década do século XXI às sociedades ibéricas, novas coordenadas para um novo lugar no mundo.
 Palavras-chave: A Jangada de Pedra, identidade(s) ibérica(s), crise.
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Gustavo Javier Figliolo
A Melancolia do Exílio em "Los Desterrados", de Horacio Quiroga.

Este trabalho tem por objetivo investigar as marcas de enunciação da narrativa do exílio do escritor uruguaio Horacio Quiroga por meio de uma análise das personagens que compõem o conto “Los Desterrados”, tentando verificar o que denominamos de “sintaxe da morte”, e que se produz em “pessoas (que) possuem uma disposição patológica”, conforme a teoria freudiana de luto e melancolia. Em efeito, toda a obra de Quiroga está entremeada de situações que acarretam, de maneira inevitável, a morte. Essa constante tendência tem a ver, cremos, com as marcas de uma melancolia que o enunciador parece não poder evitar, fato que preenche o texto com forças destrutivas correspondentes à auto-recriminação e ao auto-envilecimento do melancólico, muitas vezes finalizando em suicídio. No caso específico de “Los Desterrados”, o peso de um exílio forçado desencadeia todo o processo melancólico e obra seguindo as diretrizes das pulsões de morte. Assim, propomos aqui encontrar as marcas da tendência destruidora na narrativa de Horacio Quiroga e mostrar como essa pulsão de morte é originada pela melancolia do exílio de suas personagens. 
PALAVRAS-CHAVE: Horacio Quiroga; Exílio; Melancolia; Pulsão de Morte. 
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Heitor Cardoso
Encontros entre descendentes de imigrantes italianos e japoneses no século XX no interior de São Paulo. Identidades, conflitos e união.

Esta pesquisa, desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Estudos Culturais da Escola da Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo, busca interpretar as perspectivas culturais e históricas do núcleo familiar originário da união entre Concetta Campopiano, uma neta de imigrantes italianos, e Mituioci Sumida, um filho de imigrantes japoneses, ambos pessoas comuns nascidas no estado de São Paulo na década de 1920. Recorremos à metodologia da história oral, com a utilização de tecnologias de vídeo, para estruturar e interpretar as relações entre memórias individuais e coletivas através dos relatos de membros da família, que são os colaboradores da pesquisa, e narram suas histórias de vida e as trajetórias da família. Partimos da hipótese de que existem conflitos de identidades possíveis de interpretar nas narrativas orais, sejam eles expostos explicitamente, ou através de silêncios e esquecimentos, e que tais conflitos surgem em decorrência de pressões impostas por identidades nacionais e identidades étnicas do passado, em confronto com as identidades dinâmicas, pessoais e narrativas do presente. Procuramos analisar duas gerações da família para confirmar ou não as hipóteses dos conflitos de identidade e para, em caso positivo, apresentar quais são os pontos em disputa.
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Helano Ribeiro
Jacques Derrida: por uma ética do exílio.

Esta palestra procura armar uma conversa de uma conversa, um convite para discutir através do filósofo Jacques Derrida a hospitalidade, tomada aqui, como uma ética. A questão do estrangeiro levada à discussão sobre a hospitalidade absoluta, proposta por Derrida como aquela em que um se abre incondicionalmente ao outro, ao estranho, ao sem-nome, estranho (fremd) como potência de des-controle, in-operância da lei. 
Palavras-chave: Jacques Derrida; hospitalidade; estrangeiro.
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Josenildes da Conceição Freitas
Sombras de uma identidade em trânsito na poética de Emilio Prados.

A presente abordagem se propõe a apontar imagens ou representações de uma identidade movente, errante, em mutação e construída em um processo de trânsito, de deslocamento. Resulta da análise das formas de apresentação do sujeito lírico em poemas publicados na obra Jardín Cerrado do escritor espanhol Emilio Prados; poeta da diáspora republicana espanhola, ou seja, da chamada “España Peregrina”, o qual se exilou no México, país onde permaneceu até a data de sua morte. Os textos selecionados para essa breve exposição intitulam-se “Bajo la alameda”, “Copla”, “Voy de noche” e “Invierno en el jardín”. Nesses textos identifica-se um sujeito que caminha a esmo, embrenha-se na escuridão e parece desbravar o desconhecido. Um peregrino cuja errância, assim como as condições em que realiza essa caminhada, poderiam evocar a experiência trágica do exílio espanhol e, ao mesmo tempo, a instabilidade e imprevisibilidade decorrentes daquela diáspora. Essa análise dialoga com discussões promovidas por estudiosos da referida diáspora e da questão do exílio na modernidade. Aponta o exilado como um eterno peregrino, um indivíduo desprovido de um lugar de origem, cujo destino é incerto e marcado pela inconstância e pela transitoriedade do tempo. A entrega desse indivíduo à sorte dos acontecimentos, os quais terminam por despojá-lo de apegos nacionalistas, permite-lhe transcender limites territoriais, não acomodar-se à mera apreensão de realidades imediatas e alcançar a originalidade em sua percepção de mundo. Nesse texto poético é possível reelaborar ou ressignificar a tragédia do exílio republicano espanhol que se configura como uma premissa ou requisito da própria condição do homem moderno.
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Juan Manuel Terenzi 
Entre as duas margens do Rio da Prata: as cartas de Onetti a Payró.

As cartas do ainda jovem escritor uruguaio Juan Carlos Onetti destinadas ao amigo e crítico de arte argentino Julio Payró revelam uma faceta reveladora do autor de La vida breve. Organizadas pelo crítico literário Hugo Verani, as cartas dão mostras de como é possível o trânsito entre as diversas manifestações artísticas, tópico este abordado deste as poéticas de Aristóteles e de Horácio. Ao ler as cartas de Onetti seremos testemunhas de que a pintura, especialmente o movimento estético impressionista e pós-impressionista, dialoga frutiferamente com a poética onettiana. Em uma de suas cartas Onetti sugere que o pintor Rouault pinta exatamente aquilo que ele escreve. Contudo, não limitaremos o escopo da pintura apenas no âmbito europeu, mas também veremos como alguns pintores do Rio da Prata, entre eles Joaquín Torres García, Pedro Figari e Xul Solar conversam com Onetti.
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Juliana Helena Gomes

A simbologia do espaço textual em La esquina es mi corazón de Pedro Lemebel

Pretendo com esta comunicação apresentar a reflexão que fiz sobre as formas de constituição simbólica dos espaços narrativos ou das ambiências narrativas em algumas das crônicas do livro La esquina es mi corazón do escritor chileno Pedro Lemebel, enfatizando os mecanismos representacionais a partir dos quais eles se constituiriam como metonímias de um corpo social submetido a uma ideologia repressiva. Ideologia que tenta fixar lugares de atuação e movimentação dos cidadãos por se encontrar vinculada a uma lógica hierárquica, patriarcal e homofóbica. Esses espaços resultavam na criação de localidades alternativas, nomeadas, em minha dissertação de mestrado, defendida em 2007 pela UFMG e sob orientação da Dra. Sara Rojo, de espacialidades performáticas, uma vez que eram, ao mesmo tempo em que controlados, também subvertidos e ressignificados, portanto, modificados, pelo e em razão do deseo ciudadano. Transespaços, ainda que clandestinos, a partir dos quais desejos e instintos dos sujeitos ganhavam corpo e faziam alterar, ainda que temporariamente, a sistemática social coercitiva a eles imposta.
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Laíse Ribas Bastos 

“Quer ver? Escuta”: imagens e sujeitos da poesia de Francisco Alvim 

A proposta deste trabalho é investigar o movimento que aparece no procedimento de escrita do poeta Francisco Alvim como uma espécie de subjetividade relativa, especialmente, a partir dos anos 70. Algumas vezes, a dissimulação dos sujeitos e imagens na poesia ocorre com uma emergência do “eu”, em outras, com uma suposta despersonificação e perda da subjetividade. Atenta à escuta da fala alheia e cotidiana, a operação de escrita realizada por Alvim apresenta certo grau de imprevisibilidade nas vozes e imagens equívocas, que, no próprio corpo do poema, não se deixam apreender ou capturar por completo. Assim, quando, ocorre, por exemplo, a passagem da primeira para a terceira pessoa, o poema marcaria o encontro com a alteridade, um lugar do outro evidenciado nos disfarces das vozes do poema. De algum modo, no movimento entre a palavra que é de todos e de ninguém, entre subjetividades e objetividades, o procedimento poético operado por Francisco Alvim aponta também para o trânsito do sujeito para fora de si mesmo. O poema está, portanto, sempre iminente e subordinado à expressão da imaginação e à transformação das imagens no texto.

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Leonardo Josef Schifino Wittmann
Um oriental na vastidão, de Milton Hatoum, e o ser transdisciplinar. 

Partindo de uma aproximação entre a obra teórica Manifesto transdisciplinar, de Basarab Nicolescu (1999) e o conto Um oriental na vastidão, de Milton Hatoum (2011), o presente estudo busca examinar as condições de errância e nomadismo dentro desta ficção, principalmente em relação ao seu protagonista, Kazuki Kurokawa. Entre as características que o conectam com o manifesto de Nicolescu, está aquela que diz respeito ao homem que, embora pertencente a uma pátria específica, traz para si todas as outras nações pelas quais passou. Ou seja, um alguém pulverizado, fragmentado, que, além de ser um cidadão japonês, no caso do conto de Hatoum, é também um cidadão do mundo. Seu movimento constante não o limita a fronteiras físicas ou mentais, pois  busca, antes de tudo, por um conhecimento amplo, livre de preconceitos ou ideais estabelecidos. Assim, nos termos de Nicolescu, este personagem seria um ser transnacional. 
O artigo conecta, ainda, a narrativa de Hatoum com a obra O império dos signos, do francês Roland Barthes, já que, ao realizar um estudo bastante afetivo e fora dos padrões de um simples guia de viagem, o teórico europeu transforma a descrição em impressão, em verdadeiro desejo. Logo, o mesmo pode-se pensar sobre Kurokawa, protagonista de Um oriental na vastidão, já que este, com todo o seu conhecimento errante, busca, além de um conhecimento científico, um verdadeiro laço emotivo com os lugares pelos quais passa. Para o personagem, as barreiras que separam espaços, largos ou diminutos, tornam-se cada vez menos nítidas, convergindo numa convivência que, embora por vezes utópica, é também real, por mínima que seja. Dessa forma, o personagem representa um desfazer do óbvio, do comum, criando um “choque” cultural e buscando uma harmonia entre pátrias, conceito tão caro a Nicolescu em seu manifesto transdisciplinar. Ou seja, trata-se de encarar a realidade como uma unidade aberta. Além disso, Kurokawa não se classifica como um turista, mas como um viajante. No conceito do cineasta alemão Wim Wenders, o viajante é aquele que absorve, de maneira total, o espaço em que se encontra. Busca uma convivência com o mesmo, busca aumentar a sua experiência e livrar-se de qualquer impasse mental ou fronteiriço. Assim, personagem e espaço relacionam-se mutuamente. Um ser transdisciplinar que deixa mapas e endereços para trás, a fim de explorar de maneira livre e emocional, por meio da visão desimpedida e do caminhar livre, onde pátria, cultura, conhecimento e espaço se unem num todo, sem perderem as suas especificidades.
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Luiz Gustavo Bieberbach Engroff 
Aline Razzera Maciel 
Maria de Fátima de Souza Moretti
"Macbeth" no Teatro de animação.

O presente trabalho propõe uma análise sobre a adaptação do texto “Macbeth”, que resultou no
espetáculo “Paper Macbeth” e estreou em 2010, na cidade de São Paulo. A partir da reflexão acerca da transposição do clássico de Shakespeare para a linguagem do teatro de animação, constatamos como se deu essa ressignificação do texto proporcionada pelo atual contexto em que está inserido e quais foram as possibilidades de novas configurações dramatúrgicas e estéticas que surgiram durante o processo criativo.
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Mara Gonzalez Bezerra

Traducción comentada del cuento Carpincheros de Roa Bastos a partir de las teorias de traduccion cultural.

El trabajo propone la traducción comentada del cuento Carpincheros que compone el libro El Trueno entre las hojas (1953), de Augusto Roa Bastos. De acuerdo con Bassnett (2005) hay que llevar en cuenta el contexto social, cultural e histórico al traducir, por eso el enfoque de la traducción será a partir de los estudios de Niranjana (1992) y de conceptos de Hurtado Albir (2011). La visión transcultural de Roa Bastos y el modo como pone en relieve la lengua guaraní tan presente en su escrita se constituyen en desafíos para el traductor que tendrá que hacer elecciones. Él es uno de los autores paraguayos que tiene algunas de sus obras traducidas para el portugués de Brasil, pero es poco conocido del público en general y es más estudiado en la academia. La narrativa paraguaya todavía en su gran mayoría es desconocida para el lector brasileño. A partir de conceptos sobre la transculturación de Rama se construye la hipótesis de que el autor conoce el contexto geográfico, social, cultural de su país y también se puede leer una preocupación ecológica en el cuento. La ficción aproxima y desnuda para el lector el universo paraguayo al tratar del tema sobre las relaciones sociales y culturales entre habitantes de un mismo lugar. En una misma historia se entrelazan a indígenas, extranjeros y criollos. El escritor visibiliza el indigenismo en Paraguay y presenta el tema a partir de una inclusión de las lenguas y mitos locales, por eso la importancia de la traducción del cuento para conocer y acercar culturas.
Palabras llave: Roa Bastos, Carpincheros, Indigenismo, Paraguay, traducción.
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Maria Salete Daros de Souza
 Diáspora neocolonial: temática a propósito do filme ‘35 doses de rum’ de Claire Denis.


Este estudo tece uma reflexão a respeito de territorialidades e de suas implicações a partir do filme ‘35
Doses de Rum’, de Claire Denis, de 2008. Reconhecendo a complexidade dos conceitos de diáspora, exílio,hibridismo, multiculturalismo, colonialismo e neocolonialismo, o estudo os examina e neles assenta sua reflexão para tratar do deslocamento diáspórico de negros para a Europa. Visualiza através dos ‘vazios’ do filme os desdobramentos da diáspora no cenário transnacional, no cotidiano, na afetividade e na inserção e ou exclusão urbana das personagens fílmicas, sujeitos híbridos, multiculturais e diaspóricos, na Paris contemporânea. O interesse que suscita a temática da diáspora dá-se por conta da cruel realidade do exílio, considerando a vivência terrível que ele suscita, fratura incurável entre um ser humano e o lugar natal, territorialidade movediça própria do capitalismo tardio do século XX e da nova ordem política mundial.
Os (des)encontros e a convivência entre as personagens fílmicas, estrangeiros exilados no universo europeu,
ratificam a presença de hibridismo e de multiculturalismo como desdobramentos no cenário dos deslocamentos e dos transnacionalismos contemporâneos. Cenário em que novas configurações transnacionais de poder, articuladas à transformação na economia política e à predominância do capital multinacional, têm provocado o aparecimento dos chamados refugiados políticos e econômicos. Desafiando os preceitos básicos do ‘cinema dominante’, também pelo complexo processo dialógico de significados, de hierarquização das relações e das dependências políticas e pessoais decorrentes do fluxo migratório que apresenta, este filme de Claire Denis enseja uma surpreendente leitura
da estética migrante na contemporaneidade.
Palavras-chave: diáspora, multiculturalismo, hibridismo.
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Melissa Quirino Scanhola

Escrevendo a nação no romance "Nedjma" de Kateb Yacine.

O escritor argelino Kateb Yacine (1929-1989) publicou o romance Nedjma em 1956, um ano após o início da guerra de independência da Argélia (1955-1962). Sabe-se que a revolução política na Argélia se deu com a transformação do povo argelino, cuja consciência teceu os fios que compuseram a nação. O engajamento da população nativa no combate pela libertação do país foi parte indissociável da dimensão existencial engendrada pela necessidade de uma revolução. Nedjma - romance fundador da literatura magrebina de língua francesa - além de propor uma reflexão sobre a questão identitária e as influências ocidentais na cultura magrebina, problematiza a nação através da escrita. Uma vez que a Argélia  encontrava-se submersa no impasse colonial, com sua pluma Kateb pôde traçar um contorno para uma iminente nação. Sendo assim, “Nedjma” – que significa “estrela” em árabe -, além de personagem mestiça que desencadeia a narrativa, é figura simbólica projetada como nação argelina, por intermédio da interpretação do leitor. A partir da desconstrução das noções de identidade e nação, apresentada por teóricos como Homi Bhabha e Frantz Fanon, demonstrar-se-á como Kateb escreve em seu romance uma nação que abarca sua riqueza, contradição e pluralidade, sem, no entanto, cristalizar-se.
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Natasha Centenaro
Pensar uma cartografia da literatura brasileira contemporânea: o trânsito do macro ao micro espaço, do continente à casa.

Na pós-modernidade, período em que as fronteiras estão diluídas, é possível perceber uma nova constituição de espaço, agora não mais no singular, mas no plural: espaços. Esses espaços cambiantes estão caracterizados na literatura brasileira contemporânea de forma a se pensar personagens em trânsito contínuo. Sejam deslocamentos físicos ou psicológicos, as mobilidades externas podem confluir às mobilidades internas, ou, com efeito, ao contrário. Assim, pretende-se verificar como ocorrem os fluxos migratórios, bem como a elaboração dos diferentes espaços em quatro romances brasileiros publicados no final da década de 2000: "Arroz de Palma" (2008), de Francisco Azevedo; "Estive em Lisboa e lembrei de você" (2009), de Luiz Ruffato; "O filho da mã"e (2009), de Bernardo Carvalho, e "Nada a dizer" (2010), de Elvira Vigna. Analisa-se desde a circulação no macro espaço, conforme acontece, por exemplo, na viagem da família de imigrantes de Viana do Castelo, norte de Portugal, para o Brasil no início do século XX, na obra de Francisco Azevedo. Migração oposta faz a personagem de Luiz Ruffato, ao chegar a Portugal,
saído do interior de Minas Gerais. Trânsito intenso no macro espaço também no romance de Bernardo Carvalho, em que a trama está centrada na cidade de São Petersburgo, na Rússia, mas com importantes escalas no Brasil, no Suriname, no Japão. Do macro espaço, viagens entre continentes, entre nações, para os deslocamentos interestaduais ou regionais dentro dos países, até culminar nos movimentos no interior da casa, ao micro espaço que se faz privado. É nesse espaço restrito que a narradora autodiegética de Elvira Vigna expõe seu conflito, o interior em relação ao exterior, e o exterior a partir do interior, numa casa em arrumação, um espaço para reorganização de uma família não-tradicional. Para este artigo, busca-e utilizar a conceituação de espaço da geografia e como categoria literária, bem como a "Poética do espaço", de Gaston Bachelard.
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Patrícia Helena Baialuna de Andrade
Anna Seghers e a literatura de exílio alemã: a obra literária e a luta pela liberdade.

Durante os anos em que o partido Nacional-Socialista governou a Alemanha, foi grande o número de escritores e intelectuais que deixaram o país e buscaram asilo em terras estrangeiras para escapar à perseguição e à censura que eram praticadas em solo germânico. Dentre esses exilados, destacou-se Anna Seghers, escritora comunista de origem judia que na década de 1930 já era conhecida por seus escritos de clara orientação esquerdista. Exilada na França e depois no México, Seghers publicou no período mencionado algumas das obras mais aclamadas de sua extensa bibliografia; o presente trabalho tem como objetivo apontar para as características que fazem de alguns textos de Seghers – como A Sétima Cruz e O passeio das meninas mortas – estandartes da luta pela liberdade através como função do escritor.
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Patricia Munhoz
Um olhar em trânsito em Carta a um refém, de Saint-Exupéry

Durante o período turbulento da Segunda Guerra, muitos intelectuais franceses vão buscar refúgio em solo norte- americano, após a derrota da França em 1940, quando o país é invadido pelos alemães nazistas. Dentre esses intelectuais, encontramos Antoine de Saint-Exupéry, que, durante seu período de exílio nos Estados Unidos, publica algumas obras, tais como Piloto de Guerra (1942), Carta a um refém (1943) e o famoso O Pequeno Príncipe (1943). Neste trabalho, pretendemos abordar Carta a um refém (em francês, Lettre a un otage), um texto que inicialmente serviria como prefácio do manuscrito Trente-trois jours, de seu amigo de origem judia Léon Werth, que vivia escondido em Saint-Amour, na França, com medo de ser descoberto e preso pelo regime nazista. Porém, esse manuscrito não é publicado e Saint-Exupéry remodela seu prefácio, removendo qualquer referência direta a seu amigo, para torná-lo um texto independente, publicado no início de março de 1943 em Montreal, depois, em junho do mesmo ano, nos Estados Unidos e em dezembro de 1944 em seu país de origem. Dessa forma, inserido nesse contexto bélico e passando pela experiência do exílio, o autor sofre as angústias de um tempo instável e reflete sobre o período em questão, buscando uma perspectiva de sentido. Apoiando-nos principalmente nas reflexões de Edward Said a respeito da teoria do exílio, propomo-nos a analisar Carta a um refém a partir do olhar em trânsito de Saint-Exupéry, que evoca em seu texto diversas experiências, como sua passagem por Portugal em 1940, quando estava a caminho dos Estados Unidos; o tempo vivido no Saara; sua experiência como piloto de guerra na derrota francesa contra os alemães e sua passagem como repórter durante a guerra civil na Espanha. Assim, a rememoração de tais itinerários lhe possibilita extrair importantes reflexões acerca da amizade, dedicada ao seu amigo judeu, refém nas mãos do regime nazista. 
Palavras-chave: Segunda Guerra; Antoine de Saint-Exupéry; exílio.
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Priscylla Alves Campos

Escritas no cyberespaço: e a teoria?

O trabalho intitulado Escritas no cyberespaço... E a teoria? pretende lançar um olhar teórico sobre os textos de publicação on line de escritores cuja produção tanto é desenvolvida através da via impressa quanto via internet. A partir dos questionamentos acerca da instabilidade dos campos teóricos na contemporaneidade, cada vez mais movediços, busca-se um instrumental teórico que contemple os textos mencionados, mobilizando as leituras já disponíveis sobre o assunto e propondo caminhos teóricos que ofereçam perspectivas diferenciadas a esse respeito. Nesse sentido, para realizar essa análise, foram selecionados como corpora ferramentas como site, blog, twitter e redes sociais de alguns escritores com o perfil semelhante ao de Affonso Romano de Sant’Anna, principal objeto de pesquisa deste trabalho, que transita pela via impressa e pela internet.
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Rafael Miguel Alonso Júnior 
Hospitalidade do (ao) intruso.

A proposta deste trabalho é pensar o conceito de hospitalidade, abordado por Jacques Derrida em Anne
Dufourmantelle convida Jacques Derrida a falar Da Hospitalidade, a partir do livro El intruso, de Jean-Luc Nancy. Em El intruso, Nancy descreve/teoriza sobre o transplante de coração a que foi submetido anos antes. Constatada a miocardiopatia do filósofo, que os médicos julgaram de origem misteriosa (o coração de Nancy estava programado para durar 50 anos, limitaram-se a dizer os especialistas), o corpo do filósofo é aberto, invadido, exposto. Submetido a intrusões de ordem técnica e tomado por questionamentos ontológicos, Nancy expõe a dissolução da categoria “eu”. Corpo público, corpo privado. As teorizações de Nancy levam-nos à região da fronteira. Nas primeiras páginas do livro, Nancy, ao resumir o conceito de intruso, liga-o ao estrangeiro, àquele que entra sem aviso, permitindo a aproximação com o texto de Derrida, que segue linha teórica compatível. Desta forma, a ideia deste trabalho é pensar os conceitos de hóspede (dono da casa) e hospedeiro (intruso, estrangeiro) enquanto categorias instáveis e que se contaminam mutuamente. A chegada do intruso balança a propriedade do hospedeiro. Mas tal movimento
não é absoluto, deixa resto. Mas esse resto não mais é capaz de recompor a propriedade, a essência, limitando-se a expor a perda. O que resta de mais íntimo é a própria dessubjetivação.
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 Rosario Lázaro Igoa
Washington Benavides, tradutor de fronteiras movediças.

Esta comunicação está centrada nas estratégias de um escritor e tradutor literário que tem transitado amplamente entre a literatura brasileira e a uruguaia: Washington Benavides (Tacuarembó, Uruguai, 1930). Reconhecido poeta, músico e professor, Benavides tem traduzido literatura brasileira para o espanhol, como parte de uma afinidade que pode ter a ver com as suas origens no Norte do Uruguai, território do “portunhol”. Ele foi o primeiro tradutor de Guimarães Rosa ao traduzir, em 1979, “Com o Vaqueiro Mariano”, junto ao também poeta Eduardo Milán. Aliás, traduziu poemas de Carlos Drummond de Andrade, de Oswald de Andrade e de Gregório de Matos, entre outros. Noâmbito da sua própria poesia, Benavides pesquisou nas potencialidades dos heterônimos, estratégia que certamente se relaciona com a tradução, em Doce Canciones amorosas del juglar Xoan Zorro (2010), edição bilíngue em colaboração com o poeta brasileiro Thiago de Mello. Através de exemplos da tradução de “Com o Vaqueiro Mariano”, buscarei evidenciar as fronteiras movediças do espanhol e do português na sua tarefa de tradução, e de criação.
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Rosineide da Silva

Representação subalterna no conto Yunque de César Vallejo.

O objetivo desse trabalho, no contexto, que se refere à discussão de classes e gêneros, pode contemplar diversos olhares e críticas sobre questões polêmicas aos indivíduos que ficaram à margem, por exemplo, a voz do subalterno que por muito tempo foi silenciada pela sociedade, visando prestigiar quem estava no poder e simplesmente realizar uma mimese dos modelos europeus. Diante disso, a reflexão visa buscar a posição desse subalterno que não possuía voz, mas que a partir, das críticas realizadas por escritores latino-americanos, nos demonstram a criatividade e a representação clara e original sobre o discurso crítico dos latinos. Assim, são apresentados a diegese – a realidade própria da narrativa, à parte da realidade externa de quem lê - o novo lugar desses indivíduos através das produções ficcionais e intelectuais, que por muito tempo ficaram à margem desse contexto sócio-econômico-cultural. No conto Paco Yunque (1931), do escritor peruano César Vallejo  apresentou a realidade escolar peruana e explora a denúncia social através do universo infantil. Onde as crianças são educadas já no contexto da luta de classes por meio da relação entre Paco Yunque, um menino índio e o filho de um industriário inglês, Dorian Grieve, para quem a mãe de Yunque trabalha. 
Palavras- chave: Subalternidade, Paco Yunque, Diegese.
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 Rubens da Cunha.
O exílio-dentro de Hilda Hilst.

Hilda Hilst nunca foi uma exilada na concepção mais comum do termo, no entanto, no início de sua carreira como escritora ela produziu sobre si e sobre sua obra uma espécie de “exílio-dentro” que a deslocou do mundo festivo e rico da sociedade paulista no final dos anos de 1950, para a sua nova residência numa fazenda no interior de Campinas-SP. Todo esse período de transição ocorreu durante o momento em que o Golpe Militar se instalava no Brasil. Esta comunicação pretende abordar como esta migração do urbano para um espaço rural e bucólico, além de ser uma resposta à situação política, se tornou uma busca pelo recolhimento, por um deslocamento interno voluntário, em que o despojamento do corpo, dos protocolos sociais mais fúteis, do próprio nome construído até então, se fizeram uma ordem silenciosa, imperativa e que determinou os rumos tomados pela escrita hilstiana durante os primeiros anos da ditadura brasileira.

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Selomar Claudio Borges
Hospitalidade e hostilidade: o outro-estrangeiro em El camino a Ítaca de Carlos Liscano.

Trabalhando com as noções de hospitalidade, hostilidade, o outro e o estrangeiro, a partir de Derrida, mas também de Lévinas, pretendemos indagar como assuntos tão importantes na contemporaneidade são discutidos e problematizados na ficção, em particular, no livro El camino a Ítaca do escritor uruguaio Carlos Liscano, cujo protagonista, na condição de estrangeiro-imigrante desamparado de direitos numa Europa hostil, reflete a questão da acolhida ou não daquele que vem de fora do lugar. Autoconcebido um meteco de nossos tempos esse personagem expõe-se no reflexo do outro, ao argumentar e contra-argumentar sua condição de outro. Porém, significativamente, o outro também é o dono da casa, com quem o protagonista se embate quase invisivelmente pelos países europeus por onde deambula. Esse outro seria, em princípio, o dono do lugar com o poder de hospitalidade, como diz Derrida. É aquele que hospeda ou dá hospedagem, é o que pergunta o nome do outro, zeloso de sua casa. É aquele que percebe o acento estrangeiro, o todo diferente que habita a língua. Já o estrangeiro pode ser a ameaça que vem de fora, mas não na hospitalidade, e sim na hostilidade. Se tensionamos um pouco, podemos refletir sobre até que ponto o imigrante ilegal é o homo sacer de Agamben, essa obscura figura, vida humana sim, mas incluída na medida de sua exclusão, e ainda, de sua matabilidade. Apesar disso, não queremos pensar num mimetismo que não nos interessa aqui discutir, senão justamente a força da literatura em trabalhar nos seus limites, na construção de filosofemas, por meio das reflexões de seus personagens, ou da arreflexia deles diante do tudo estrangeiro, de experiências e inexperiências. 

Palavras-chave: hospitalidade; estrangeiro; literatura uruguaia.
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Sérgio Luz e  Souza
O que é ser mulher: Análise de poemas de Alzira Rufino e Afua Cooper.

A mulher negra foi durante centenas de anos, e continua sendo ainda hoje, vítima de abuso principalmente como força de trabalho e como objeto de satisfação de sexual. Em função disso, várias escritoras negras passaram a negar a existência do corpo em seus textos. As poetisas Alzira Rufino, do Brasil, e Afua Cooper, que nasceu na Jamaicana e migrou para o Canadá no início da idade adulta, são escritoras que passam a (re)inserir o corpo feminino na poesia. É perceptível que, enquanto Alzira Rufino se esmera na linguagem para obter um efeito mais sutil na sua descrição sobre relações amorosas, Afua Cooper mostra-se muito livre e descreve com clareza o erotismo em seu texto.
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Silviana Deluchi
A relação entre objetos e personagens nos textos de Felisberto Hernández.

Com este trabalho se pretende demonstrar que os objetos de Felisberto Hernández que servem ao capitalismo, podem ser a resistência a eles. Pensando a música para além do objeto em que é executada, e a  literatura, que apesar de sobreviver na oralidade, necessita de objetos para ser escrita, e também do consumidor. Os mesmos objetos que carregam o espectro do capitalismo, também podem ser a pequena luz dos vaga-lumes (Didi-Huberman) ofuscadas, mas ainda existentes.
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Telma Scherer

Voz, agulha e linha: tessituras poéticas contemporâneas.

Em "Poemas malditos, gozozos e devotos", de Hilda Hilst, podemos ler: "Poderia ao menos tocar / As ataduras da tua boca? / Panos de linho luminescentes / Com que magoas / Os que te pedem palavras?" A conversa deste eu lírico com Deus estabelece uma aproximação entre o ato criativo e a devoração divina da nossa fala: "Abre teus olhos, meu Deus, / Come de mim a tua fome." Tendo isto em mente, pretendo abordar a criação artística de Arthur Bispo do Rosário. Esse artista, cuja crença na tarefa de substituir Jesus Cristo o levou a construir o suntuoso manto do Juízo Final, obra máxima, tem sido lido a partir da consideração do lugar onde viveu e criou, o hospital psiquiátrico. Então o que é lido não são apenas seus mantos fenomenais, esculturas e assemblages, mas as condições de possibilidade desse processo criativo que, fora dos portões da Colônia Juliano Moreira, conquistou um espaço inegável na arte brasileira do século XX e também influenciou inúmeros artistas contemporâneos. Um caso apenas possível no contexto de um movimento que ganhou espaço em nosso meio cultural nas últimas décadas,migração estética que cruza portões e enlaça criações artísticas de meios e modos diferentes de existência. Tanto Bispo quanto Edith Derdyk tramam tecituras, ela com as palavras de "Linha de costura", um livro de artista, filosófico,
poético, um livro-manto que também investiga cruzamentos de limites. Nesse mesmo contexto podemos ler a fala de Stela do Patrocínio em livro organizado e publicado por Viviane Mosé. Deslocamentos, cruzamentos, tessituras entre poesia, arte e vida.
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Valdir Olivo Júnior 

Augusto Roa Bastos: Intermitências.

Este trabalho propõe refletir acerca da relação entre exílio, escritura e resistência em textos do escritor e roteirista paraguaio Augusto Roa Bastos. Para tanto, parte do conto “Lucha hasta el alba”. Este conto, que Roa Bastos diz ser autobiográfico, narra um episódio bastante singular de sua experiência com a escrita na infância. Conta como, para escapar de restrições paternas em sua infância, escrevia em seu quarto às escondidas, sob a luz intermitente de um vidro repleto de vaga-lumes. Este episódio, que retorna em pelo menos dois outros momentos, o primeiro no livro Contravida de 1994 e em seguida no filme El portón de los sueños (1998), será o pretexto para refletir sobre como sua literatura elabora e resiste às marcas dos exílios e do poder como violência da ditadura paraguaia.
Palavras-chave: Augusto Roa Bastos; Exílio; Escritura; Resistência.
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